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OLÁ,

Onde está a diversidade nos júris teatrais?

Lançado neste mês, Prêmio Antunes Filho inova ao trazer ciclo de atividades permanentes, mas falha ao não trazer diversidade em seu comitê

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 1 set 2023, 11h44 - Publicado em 1 set 2023, 09h39
Aplausos brancos – a falta. de diversidade nos juris de prêmios de teatro
 (Laís Brevilheri/Redação Bravo!)
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Vamos começar com as boas novas: no começo de agosto, São Paulo recebeu uma novidade teatral com o lançamento do Prêmio Antunes Filho de Teatro. A cerimônia inaugural aconteceu no Teatro Itália Bandeirantes, no icônico Edifício Itália, no coração de São Paulo. Como é de se esperar, uma sessão dedicada às artes do palco em um dia útil normalmente não atrai um grande público. No entanto, aqueles que estiveram presentes demonstraram entusiasmo com a iniciativa. O conceito partiu da equipe de jurados, que abrange críticos de teatro, diretores, jornalistas e até mesmo engenheiros, composta por Edgar Olímpio De Souza, José Cetra Filho, Kyra Santos Piscitelli, Maria Luísa Barsanelli e Vinicio Angelici. Anualmente, essa equipe assumirá a responsabilidade de assistir, avaliar e selecionar os melhores espetáculos e artistas.

São Paulo se destaca como um dos principais centros de reconhecimento das artes cênicas, hospedando prestigiadas premiações como os Prêmios Shell, APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, o Prêmio Bibi Ferreira, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo para a Cultura, entre outros. Para evitar fazer mais do mesmo, o Prêmio Antunes Filho busca colocar o foco no processo criativo, em vez de apenas no resultado da premiação. Com esse propósito, está planejada uma série de atividades ao longo do ano, culminando na entrega dos troféus. O que, de fato, é um mérito dessa nova empreitada.

Serginho Groisman sendo premiado na cerimônia do prêmio APCA.
(Jonatas Marques Nascimento/arquivo)

As atividades já estão em andamento. No último mês, o Teatro Itália foi palco de leituras encenadas de peças nacionais e internacionais, tanto clássicas quanto contemporâneas, em uma base semanal. Esse projeto paralelo visa a estimular a criação de novas produções, que até o momento existem somente como aspirações. Embora muitos assentos do tradicional teatro permaneçam vazios, os lugares ocupados, por vezes, contam com a presença de figuras notáveis da cena teatral. Prometido por Ricardo Grasson, o anfitrião do evento, um dos primeiros resultados desse projeto foi a aquisição de um espetáculo. Portanto, um dos objetivos dessas atividades é promover, de maneira indireta, o desenvolvimento do teatro.

Naquela semana, foi realizada a leitura da dramaturgia Até o Fim, de Daniel Tavares e Franz Keppler, com direção de Lavínia Pannunzio. Os protagonistas em cena são Daniel e Lavínia, interpretando mãe e filho, respectivamente. Lavínia desempenha o papel de uma médica especializada em cuidados paliativos, enquanto Daniel é um jornalista. A relação entre eles sofreu abalos desde a morte do pai. No entanto, uma reviravolta faz com que eles restaurem o vínculo afetivo. Daniel é detido no aeroporto da Indonésia com uma quantidade considerável de drogas. A penalidade para esse tipo de crime no país pode culminar em pena de morte. O enredo gira em torno da distância, da saudade e da incerteza enfrentadas pelos dois personagens.

Leitura da dramaturgia
(Daniel Tavares/arquivo)

Qualquer iniciativa voltada a promover o acesso à cultura merece atenção e reconhecimento. Mesmo com a existência de várias premiações, é crucial considerar os benefícios e impactos desses projetos. Um prêmio pode impulsionar carreiras, aumentar a visibilidade dos artistas e até levar mais pessoas para o teatro. Além disso, representa uma forma dinâmica e divertida de apreciar talentos e performances. Algumas premiações vão além, como o Prêmio Shell, que oferece recompensas financeiras, algo essencial nesse campo. No entanto, isso não deve ser visto como um escudo contra críticas. Há, por exemplo, uma necessidade constante de descentralizar as atividades culturais, ampliando o alcance além das capitais, e, especialmente, de refletir a diversidade de perfis que compõem o mundo das artes. Em outras palavras, é necessário buscar diversificação. Isso é algo que o Prêmio Antunes Filho, com seu painel de jurados, parece não estar próximo de atingir.

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Nos últimos anos, tiramos uma lição do maior prêmio cinematográfico do mundo, o Oscar. Quando não há membros heterogêneos na Academia, dificilmente haverá diversidade entre os indicados. Durante décadas, a mensagem transmitida pela cerimônia era de que havia poucas mulheres cis, quase nenhum profissional negro. Pessoas trans, então, nem se fala. Entretanto, essa percepção está longe de ser verdadeira. Em 2016, quando pelo segundo ano a Academia falhou em indicar profissionais negros, muitos artistas boicotaram a cerimônia. A questão que colocavam era: sem diversidade nos júris, como garantir a representação diversificada dos premiados?

O que os júris nos mostram?

Em geral, os principais júris das premiações em São Paulo são compostos por homens brancos com mais de 40 anos. As mulheres representam uma minoria e críticos negros são praticamente inexistentes. Para ilustrar, no Prêmio Antunes Filho tem-se cinco integrantes: três homens e duas mulheres, todos brancos. No Prêmio Bibi Ferreira, encontramos dois grupos de jurados: um para teatro musical e outro para teatro de prosa. O total é de 12 profissionais, apenas três mulheres e um homem negro, Miguel Arcanjo Prado, crítico cultural.

Miguel tem tido uma participação solitária em alguns desses comitês. E conta que foi em função disso que criou Prêmio Arcanjo de Cultura, em 2019. “A ausência de negros e negras premiados na cena teatral durante muito tempo impactou artistas negros e grupos que abordam tal temática, já que a legitimação de premiações possibilita voos mais altos na indústria cultural. E a falta dela deixa tudo mais difícil. Eu sou o primeiro crítico negro a ter ocupado a vice-presidência da APCA, na qual ainda sou o único votante negro”, afirma o jornalista.

“A ausência de negros e negras premiados na cena teatral durante muito tempo impactou artistas e grupos que abordam tal temática, já que a legitimação de premiações possibilita voos mais altos na indústria cultural. E a falta dela deixa tudo mais difícil”

Miguel Arcanjo Prado, único crítico negro a compor os prêmios Bibi Ferreira e APCA

Miguel acredita na importância de ampliar o alcance em direção a grupos e artistas frequentemente esquecidos por parte da crítica. “Durante muito tempo, me lembro que apenas eu frequentava as peças dos coletivos negros de São Paulo e escrevia sobre esses artistas, enquanto a maioria do jornalismo cultural os ignorava, falando sempre dos mesmos endeusados nomes, todos brancos, obviamente. Eu vejo o jornalismo como uma missão e creio que ele deve refletir a realidade ao seu redor”.

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Essa situação se repete em menor grau na versão paulista do Prêmio Shell, que recentemente deu um passo na direção da mudança ao convidar a atriz e roteirista trans Luh Maza (atual roteirista-chefe da adaptação televisiva do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior) para ocupar o lugar vago deixado pelo falecimento da crítica Lucia Maria Glück Camargo, em 2020. No grupo, Luh também se destaca como a única pessoa negra. Ademais, nos outros júris citados, não há nenhuma pessoa trans representada. Assim como não há presença de indivíduos indígenas, apesar da existência de artistas e coletivos teatrais com essa identidade.

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Já o APCA, apesar de sua conceituada reputação, parece estar realizando menos esforços nesse sentido. Composto por dez jurados, o painel inclui oito homens e duas mulheres. Segundo o estatuto do APCA, qualquer profissional da crítica pode se candidatar para compor o júri. Em seguida são avaliados pela diretoria da Associação e, por fim, aprovados ou não pelo corpo atual de jurados. No entanto, a participação torna-se ainda mais restritiva, pois exige o pagamento de uma anuidade de R$250 dos participantes. Em nota, a diretoria do APCA reconhece as “lacunas” de diversidade e afirma que o comitê é formado a partir da iniciativa e interesse dos candidatos.

“A APCA é uma entidade da sociedade civil com corpo de jurados que se forma a partir do interesse pessoal. Os candidatos ao júri procuram a associação e são avaliados quanto ao desempenho e/ou protagonismo nos seus campos de atuação. Admitidos, pagam anuidade.

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Com 67 anos, a Associação Paulista de Críticos de Arte busca se adequar e ser representativa da sociedade, espelhando sua variedade e incluindo cada vez mais. Em seu atual quadro, a APCA conta com diversidade de gênero, idade e raça. Buscamos a variedade nas premiações e na apresentação. Sobre a questão do etarismo é importante ressaltar que a maioria dos críticos da APCA encontra-se em uma faixa de idade elevada pois se trata de entidade com quase 70 anos.

Sabemos que há lacunas a preencher e pretendemos cobri-las. Para tanto, aproveitamos a oportunidade de nos manifestar ocupando este espaço para informar que estamos abertos à entrada de novos associados. Incentivamos a candidatura especialmente de pessoas pretas, trans e LGBTQIA+.”

Os representantes do Prêmio Antunes Filho atribuem, em parte, a ausência de diversidade à carência de patrocínios. “Acreditamos que a diversidade é de extrema importância, mas também requer investimento, o que não é uma realidade da maioria dos prêmios teatrais. Hoje, são raras as premiações que remuneram seus críticos, e boa parte das cerimônias só acontece graças a parcerias.” (Veja a nota completa do Prêmio Antunes Filho no fim do texto)

Verónica Valenttino interpretando Brenda Lee no espetáculo
Verónica Valenttino interpretando Brenda Lee no espetáculo “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”. (Caio Galucci/arquivo)

Há, necessariamente, que se reconhecer os avanços. E isso não tem passado despercebido por artistas. Neste ano, pela primeira vez, uma mulher trans, a atriz Verónica Valenttino, foi premiada com o Shell de Melhor Atriz, pelo espetáculo Brenda Lee e o Palácio das Princesas e em 2022 com o prêmio Bibi Ferreira de Atriz Revelação. Além dela, naquele ano, a atriz Marina Mathey foi agraciada por seu trabalho no mesmo espetáculo, com o prêmio Bibi Ferreira de Melhor Atriz Coadjuvante em Musical, se tornando a primeira travesti a vencer a categoria.

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Verónica Valenttino no prêmio APCA.
(Jonatas Marques Nascimento/arquivo)

Ao mesmo tempo que Marina celebra maior visibilidade, ela não considera essa uma causa ganha. “A ausência de corpos ditos dissidentes significa ignorar nossa existência. Nós tivemos, sim, no ano passado, a felicidade de assim como eu, Verónica Valenttino receber prêmios no teatro, como temos este ano Tenca Silva indicada ao APCA, porém ainda é um início desse reconhecimento do nosso trabalho. [A atriz e cantora] Rogéria foi destaque dos musicais por anos e nunca recebeu nenhum prêmio, nem mesmo uma indicação. Vejo que a nossa luta e a luta das que vieram antes de nós está começando a dar frutos. É nítida a diferença que fez a presença de Luh Maza na comissão julgadora do prêmio Shell em 2022”, afirma a atriz.

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Para ela, há outra batalha que precisa ser superada para promoção do trabalho de artistas trans: romper os estigmas. “Temos diverses artistas trans, de diversas áreas e talentos, trabalhando e ocupando espaços de destaque hoje (e antes também), e é indiscutível a necessidade de ocuparmos também esta posição de quem olha para estas obras, quem as aprecia e avalia, para não recair mais sobre estas um olhar enrijecido, estigmatizante. É muito comum taxarem o teatro feito por pessoas trans ou por qualquer corpo que não seja branco e cisgênero como algo específico, ‘identitário’, para restringir falsamente o universo que nós somos capazes de elaborar, e este processo é o mesmo que nos desumaniza, nos exotifica.”

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Em uma entrevista para a revista Marie Claire, a atriz de cinema Renata Carvalho, que é trans, corroborou esse ponto de vista ao compartilhar a frustração de que, sempre que interpreta uma personagem trans, parte da crítica tende a enxergá-la como uma representação de si mesma.

Afinal, por que há tão pouco empenho em aumentar a diversidade nos júris teatrais?

Além dessas ausências, é notável que essas celebrações tenham se transformado em uma espécie de “bolha”, onde os críticos se repetem entre diferentes premiações. Evaristo Martins de Azevedo, por exemplo, faz parte dos júris do Shell e da APCA em São Paulo. Ferdinando Martins, por sua vez, está presente nas três listas: Shell, APCA e Bibi Ferreira. Além disso, os cinco jurados do Prêmio Antunes já fazem parte do corpo de jurados do Shell, ou da APCA, ou estão ligados a eles de alguma maneira. Kyra Santos Piscitelli, por exemplo, é vice-presidente da APCA.

“Os prêmios – em sua maioria – se renovam de dentro para fora. Ou seja, aqueles que estão dentro chamam outras pessoas que eles acreditam ter importância para compor um júri dentro do seu próprio prisma. E nessa, as renovações dos júris vão ficando sempre com a mesma cara”

Bruno Cavalcanti, crítico e jurado do Prêmio Destaque Imprensa Digital

O jornalista e crítico teatral Bruno Cavalcanti, jurado do Prêmio Destaque Imprensa Digital, compartilha a impressão de Miguel e acredita que a dificuldade em trazer novos nomes deriva de um sistema de indicações que beneficia núcleos isolados. “Os prêmios – em sua maioria – se renovam de dentro para fora. Ou seja, aqueles que estão dentro chamam outras pessoas que eles acreditam ter importância para compor um júri dentro do seu próprio prisma. E nessa, as renovações dos júris vão ficando sempre com a mesma cara”, afirma.

Para além da diversidade, Bruno pensa que a estrutura de indicações deve se apoiar na pluralidade de ideias e visões. “Numa votação em que a maioria decide, como você convence sozinho uma maioria de que determinado espetáculo é importante a partir de uma visão individual que leva em conta questões raciais, sociais, comportamentais, se nem todos estão aptos a levar esse aspecto em consideração? Ou mesmo o contrário. Como você convence pessoas muito bem intencionadas que um espetáculo não é o melhor do mundo só porque trata de pautas que nos são caras?”

Bruno ressalta um aspecto crucial: a presença de representatividade nos painéis de jurados não resulta automaticamente em uma maior diversidade entre os nomeados. Nesse sentido, ele acredita ser fundamental estabelecer critérios precisos para a formação do comitê, a fim de garantir a inclusão de uma ampla gama de saberes e interesses. “Ter pessoas pretas não significa que mais espetáculos de pessoas pretas serão indicados. Não é assim que funciona – ou ao menos não é assim que deveria funcionar. É preciso ter um olhar mais detalhado para o que essa pessoa que vai fazer parte de um júri produz. O que ela pensa? Como ela vê o teatro? Aliás, ela assiste teatro ou ela só gosta de ver peças badaladas e com famosos, ou musicais? Essa pessoa vê musicais? Acho que é um buraco muito, mas muito mais embaixo do que simplesmente uma pessoa preta, uma pessoa trans. Precisamos ter uma representatividade que realmente signifique mudança, porque senão é uma revolução de polichinelo.”

Para Anderson Kary Báya, multiartista indígena, integrante do grupo de artes Dyroa Bayá, há um aspecto anterior ao desejo de diversificar corpo de júri ou, até mesmo, os selecionados. Há que se ter em vista, em sua opinião, a multiplicidade de olhares e de repertório do que pode ser visto como teatro. “Na cultura indígena falamos que precisamos muito experimentar, vivenciar antes de poder julgar ou ensinar os outros.”

Anderson acredita ser preciso desnaturalizar a visão do que é o teatro, e desvincular de um ponto de vista unicamente acadêmico ou europeu. “As pessoas que normalmente vencem são as mesmas porque estão há muito na estrada e porque as pessoas já conhecem esse tipo de fazer teatral que está colocado há muitos anos. Por exemplo, se não houver ninguém no júri familiarizado com a cultura indígena, não vamos nunca ganhar. Requer um olhar que vá além do que fomos ensinados sobre o que é o teatro.”

Premiações sempre carregarão uma dose de imperfeição, visto que são moldadas pela subjetividade e perspectiva limitada de alguns indivíduos, mas é possível mitigar essas falhas. Existe uma janela aberta para implementar mudanças significativas. Até o momento, o Prêmio Antunes Filho opera sem a disponibilidade de recursos, e os jurados contribuem de forma voluntária, uma atitude digna de reconhecimento. Contudo, essa representação já não se adequa mais à realidade, e é fundamental que se adote uma abordagem cuidadosa em direção à inclusão de profissionais de diversas áreas, de diferentes origens e experiências. Afinal, as artes cênicas, por sua natureza heterogênea e mutante, sempre foi o lugar de acolhimento e inclusão. Existe maior diversidade de gênero, orientação sexual, classe e raça neste campo em comparação com a maioria das outras profissões. Por que, então, o mesmo não acontece nos júris teatrais?

Novas iniciativas

Para suprir algumas lacunas em termos de diversidade na cena teatral, um grupo de cinco artistas fundou em 2021 o Instituto Brasileiro de Teatro, que tem sede em São Paulo. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que busca fomentar projetos teatrais de grupos de todas as regiões do país, e, ao mesmo tempo, oferecer espetáculos gratuitos ou em troca de alimentos não perecíveis. O diretor da organização, Oliver Tibeau, explica que uma das preocupações iniciais era formar uma equipe de avaliadores mais diversa. “O painel era composto por sete jurados, com a maioria sendo pessoas negras, duas pessoas trans e indivíduos de diferentes faixas etárias. Tivemos um cuidado meticuloso ao selecionar os membros do painel. Reconhecemos a importância dos dispositivos de diversidade no edital, mas também valorizamos a perspectiva dos jurados. Portanto, quanto maior a diversidade, melhor”, afirma Oliver.

O propósito deste júri era eleger a próxima produção teatral, “Fracassadas BR”, que já está sendo apresentada na sede do instituto.

*Os responsáveis pelos Prêmios Shell e Bibi Ferreira foram abordados para comentar sobre o tema. Este texto será atualizado para incorporar suas declarações.

Manifestações:

O Prêmio Antunes Filho de Teatro é uma iniciativa de críticos teatrais de São Paulo, que se reuniram em 2022 com o intuito de celebrar a excelência e o talento nas artes cênicas da cidade. Além disso, o projeto se propõe a movimentar e fomentar a cena teatral a partir de atividades paralelas, como o 1º Ciclo de Leituras, que estreou em junho no Teatro Itália.

O que guiou a composição do júri foi não apenas o fato de seus integrantes serem, em parte, idealizadores do projeto, mas também pessoas que já têm o hábito e a disponibilidade de assistir a grande parte das produções em cartaz na cidade de São Paulo. Acompanhar a temporada teatral requer tempo e gastos (muitas vezes do próprio bolso) para deslocamento aos diversos espaços cênicos espalhados pela cidade.

A sub-representatividade de pessoas negras, mas também de pessoas trans e de vários outros grupos, dentro das comissões de prêmios, é algo notório que reconhecemos e frequentemente debatemos. Acreditamos que a diversidade é de extrema importância, mas também requer investimento, o que não é uma realidade da maioria dos prêmios teatrais. Hoje, são raras as premiações que remuneram seus críticos, e boa parte das cerimônias só acontece graças a parcerias. Isso é também reflexo da falta de investimento de recursos no meio teatral e do sucateamento de diversos setores, como a imprensa, que quase não conta mais com críticos em seus quadros.

Não é de se surpreender, portanto, que alguns nomes se repitam nas diversas comissões de prêmios. Porém, vale ressaltar que os resultados desses troféus são diversos e buscam um olhar atento à variedade de produções e de artistas que representam a cena teatral.

No caso do Prêmio Antunes Filho, trata-se ainda de um projeto, que busca captar recursos e, por ora, conta apenas com algumas parcerias, como a do Teatro Itália, que abriu seu palco para o Ciclo de Leituras. Todo o trabalho da equipe, no momento, é feito sem remuneração ou reembolso de eventuais custos. A ideia, futuramente, é expandir o escopo do prêmio em diversas atividades paralelas e na ampliação e no revezamento do seu corpo de jurados.

Como mencionado, a diversidade de tais comissões é uma longa e contundente discussão, que requer diálogo constante, além de investimentos e parcerias.

Integrantes do Prêmio Antunes Filho de Teatro

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