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O voo solo de Samuel Rosa

Músico deu início à turnê de seu álbum ‘Rosa’, projeto que marca sua nova fase após o fim do Skank

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 6 ago 2024, 14h56 - Publicado em 6 ago 2024, 10h00
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 (Lorena Dini/divulgação)
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Foi dada a largada: na última sexta-feira (2), Samuel Rosa deu início à turnê de seu novo álbum, “Rosa”, o primeiro trabalho solo desde a despedida do Skank, banda que o acompanhou durante 30 anos. Havia grande expectativa para o primeiro show na capital paulista, que aconteceu no Espaço Unimed. “Acho que a pergunta não deve ser ‘Por que o Skank acabou?’, mas ‘Como durou 30 anos?’. Estou pronto para finalmente, depois de tantos anos na música, seguir sozinho”, reflete Samuel em entrevista à Bravo!. 

Durante a apresentação, ele foi acolhido por uma plateia aberta a conhecer as novas composições como “Me dê Você” e “Segue o Jogo” (que já está tocando nas rádios de MPB), mas, claro, ávida pelas antigas canções que fundaram o sucesso e a importância do Skank. Mesmo diante do desafio de apresentar sua nova faceta, Samuel demonstra desembaraço no palco, conseguindo manter o ritmo ao intercalar as novas canções com hits populares da banda. “Não posso ter a expectativa de um veterano, porque como artista solo, eu sou um novato, estou construindo a minha carreira. Eu não consigo segurar um show inteiro com músicas inéditas, porque só tenho dez”, avalia.

Ele repete em entrevista que gosta da estrada, ou seja, do contato direto com os fãs, e isso fica evidente quando testemunhamos a facilidade com que ele alterna de anfitrião a performer. “Acho que fiquei mais corajoso e passei a acreditar mais em mim. Agora, minha autocrítica não é mais balizada pelos outros”, confessa.

Samuel não é do tipo que conversa muito durante o show; ele sabe criar um diálogo e manter o público entretido sem precisar usar muitas palavras. A interação se dá muito mais em seus versos e acordes de guitarra. Isso, no entanto, não significa que ele abra mão de compartilhar algumas histórias do passado com o Skank. Afinal, 30 anos de estrada não são 30 dias. “‘Segue o Jogo’ fala de um rompimento, que pode ser de várias coisas. Muita gente pergunta se é para o Skank, para algum relacionamento meu e tal. Mas eu me vejo, sim, como esse trovador. Ao longo dos anos, fui percebendo o que sou para as pessoas, o que minha voz representa para elas. Acabei percebendo que é inegável e irrefutável que minha voz endossa aquilo que canto”, reflete.

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(Lorena Dini/divulgação)

Uma das grandes virtudes de Samuel como cantor é a qualidade e simpatia em cima do palco. Em seus shows, ele se empenha para que aqueles que o assistem se familiarizem com as músicas do novo álbum, dando pequenas “tarefas” para que os espectadores possam cantá-las junto. O resultado é um show dinâmico, conduzido por um músico talentoso e carismático. O ponto alto, entretanto, ainda ocorre quando ele recupera músicas como “Sutilmente” (canção escrita com Nando Reis) “Dois Rios”, “Vou Deixar”, entre outras.

Atualmente, um dos melhores termômetros para compreender o quanto os fãs estão em sintonia com o artista é a quantidade de celulares em mão, postos no alto para gravar aquele momento. Isso teve de sobra em faixas como “Vamos Fugir” e  “Ainda Gosto Dela”. O setlist também incluiu momentos de reverência a outros artistas, como as bandas Ira e Paralamas do Sucesso, e Jorge Ben – que estava presente na plateia.

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Havia também outros motivos para celebrar naquela fatídica noite de sexta-feira. Seu primeiro show aconteceu no mesmo dia que a judoca Beatriz Souza conquistava a primeira medalha de ouro para o Brasil nestas Olimpíadas – acontecimento que não foi ignorado por Samuel durante o show e rendeu um discurso emocionado do cantor em homenagem aos atletas que nos representam em Paris.

Com a Bravo, Samuel falou sobre essa nova etapa, suas mudanças e o nascimento de sua filha, Ava. Confira a íntegra da conversa a partir de agora:

O que mais mudou quando você decidiu sair do Skank? O que você está sentindo de mais diferente?

Para mim é uma situação totalmente nova, porque desde que comecei a tocar, com meus 14, 15 anos, sempre me vi em uma banda, onde há que se respeitar o espaço do outro o tempo todo. Não que agora não tenha, mas é diferente. Ao longo desses anos, fui adquirindo certa experiência e ferramentas para que eu mesmo pudesse escolher meus próprios rumos. Isso, mesmo com mais de 30 anos de experiência na música, 30 anos de Skank, você vê, antes eu já tocava, já fazia parte de uma banda, onde todas as decisões eram tomadas de forma consensual, muitas vezes tendo que assinar embaixo porque a maioria achava que um caminho era melhor do que aquele que eu pensava. Muitas vezes eu estava errado, algumas vezes eu estava certo, mas a partir do momento que a banda decidia, era um time, era consensual; todos respondiam por erros e acertos.

Agora, sinto que as decisões, tanto na estética do álbum, como nas estratégias de marketing, arranjos de música, o que entra e o que não entra, estão mais na minha mão. E mesmo não sendo uma banda de pessoas muito jovens, são pessoas que não têm a experiência que eu tenho. Então, há uma certa hierarquia e respeito, sabendo que eu sou a única pessoa ali a responder pelas diretrizes, pelos caminhos. E eu acho que estou apto para isso. Acho que estou pronto para finalmente, depois de tantos anos na música, seguir sozinho.

Mudou alguma coisa no seu processo de composição, no seu processo de criação? Como foi para esse álbum em específico?

Fiquei mais corajoso, não no sentido de ousado, mas passei a acreditar mais em mim, porque não tenho mais aquele balizamento de uma banda dizendo “isso eu não gosto”, “está ruim”, “está cafona”, ou algo assim. Agora, minha autocrítica não é mais balizada pelos outros. Estava muito acostumado a dividir opiniões e gostos com eles. Ainda que em condições normais, eu sempre começava uma canção, sempre vinha com a ideia. Agora, estou mais seguro. Tenho que acreditar em mim. Estou um pouco mais atrevido. É isso que eu sei fazer, não vou conseguir fazer além do que eu posso, de como me moldei. Não sou um artista recém-chegado, um novato. As pessoas já têm um mapa na cabeça delas sobre mim.

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Posso estar sendo um pouco cético, mas não vou mudar isso de uma hora para outra, nem quero. Só quero acrescentar ao que elas imaginam de mim, com alguns floreios, nuances. Na minha autoimagem, posso acrescentar, fui capaz disso, sou capaz disso aqui também. Mas, a grosso modo, não há uma ruptura estética na minha canção, no modo de fazer música. Olhando este trabalho e as coisas que o Skank fez, nem era minha intenção. E se vier, virá aos poucos, com o tempo. É uma carreira que está sendo construída, tenho que estar ciente disso.

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(Lorena Dini/divulgação)

E qual tem sido a resposta do seu público?

Há uma galera interessada que comenta sobre cada música nas minhas redes sociais. Acho isso muito legal. Estou experimentando isso pela primeira vez. Estive afastado da indústria fonográfica há tanto tempo. O Skank parou em março do ano passado, mas a banda vinha fazendo muitos projetos de revisão de carreira. Fazia muito tempo que não lançava um disco de músicas inéditas. Agora, com o lançamento, estou curioso e me surpreendendo, porque as coisas mudam muito rápido. O feedback nas redes é imediato. Todos podem ouvir o disco e já emitir suas opiniões, gostando mais de uma música do que de outra. É só olhar os plays nas plataformas de streaming.

Você se surpreendeu de alguma forma vendo o que está chamando mais a atenção do público? O que está achando dessa resposta?

Fiquei surpreso com a variedade de opiniões divergentes. É muito diferente da época da indústria fonográfica clássica, quando eu achava que meu disco era o que a crítica musical dizia ou o que o público elegia para tocar no rádio. Agora, as opiniões são muito diversas. Alguém pode gostar de tudo, menos de uma música, enquanto outra pessoa pode gostar exatamente dessa música. É muito diverso.

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(Lorena Dini/divulgação)

E teve um momento muito bonito que coincidiu com o nascimento da sua filha, a Ava. Ela entra no seu álbum de alguma forma? Como esses dois processos se cruzaram?

Não fiz uma canção específica para ela, mas acho que todo o álbum foi muito contaminado por essa dose de amor e afeto de ter um novo filho, uma nova vida. Fui tomado por um otimismo, algo endócrino, que todo pai e mãe têm quando vêem um filho, acreditando novamente no mundo. É um disco solar, não à toa. Esses momentos são muito valiosos e preciosos. Não quis desperdiçar isso. Curiosamente, o Stephan [Stephan Doitschinoff], que fez a capa, colocou três sóis após ouvir o disco. Ele foi feito no verão, trabalhei sempre durante o dia, e estava grávido, né? Havia uma urgência, mas também uma tranquilidade. Dez músicas foram suficientes. Pensei em retomar o disco depois do nascimento da Ava, mas olhei para o disco e falei: está pronto. Depois gravo as outras músicas em outro momento.

Você falou também da sorte que teve ao encontrar os músicos da banda atual. Como tem sido essa relação, agora que você ocupa um lugar de quase mentor para os outros músicos?

Essa alegria ficou patente no clima do estúdio, uma coisa de namoro novo. Os caras estão num trabalho novo e eu também. Tem essa alegria de tocar comigo, alguns ouviram meus discos quando crianças. Ao mesmo tempo, eu aprendo com eles e tenho uma nova patota. Esse entusiasmo ficou patente durante a gravação do álbum. Já estava nos shows que fizemos no ano passado. O ano passado não tirei um ano sabático, apesar de merecer, pois a turnê de despedida teve 100 shows. Mas optei por pegar a banda que já tocava comigo em projetos paralelos, azeitar melhor a banda, criar uma identidade. E deu certo.

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Fizemos 40 shows até o final do ano. Quando entramos no estúdio, não era uma turma nova se conhecendo no início do ano letivo. Compor, para mim, criar, mesmo que seja arranjo, é a parte mais nobre da carreira de músico. Todo mundo glamoriza muito o show, a entrega. Também cuido muito disso. Aliás, sou mais de estrada do que de estúdio. Compor é um baita desafio, a tarefa mais nobre. Para compor, tem que haver abertura, errar, desapontar-se, entusiasmar-se quando encontra algo bonito. Há muita intimidade no estúdio entre os músicos.

As pessoas às vezes me perguntam por que a banda acabou. Eu respondo que a pergunta é por que durou tanto tempo. É uma exceção. Os Paralamas do Sucesso, 30 anos com a mesma formação, são uma exceção. Normalmente, uma banda tem um ápice do seu encontro. O Skank já teve isso. Depois, vira uma repetição, por mais que você queira mudar. A banda vira uma instituição, com suas músicas, seu jeito de cada um dentro dela, que faz você olhar o mundo segundo os valores daquele grupo. Não estou falando só de banda, mas de grupos em geral, de trabalho, família e tal. Sair disso é muito interessante, você descobre o mundo de novo.

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(Lorena Dini/divulgação)

Musicalmente, você sentia falta de trazer outras referências? Desejava fazer trazer outro som?

Não. Eu queria mergulhar em mim mesmo. Deixa eu ver o que posso fazer. Não é possível que eu precise fazer um disco e depois falar que ouvi tal coisa, que isso é uma referência daquele disco de uma banda da Islândia, da Índia, ou algo assim. Até tem, mas não recorri muito a referências externas. Tentei me exercer sem precisar de balizamento externo, sem estar incluído numa cena específica. Não sou de cena nenhuma. Nos anos 90, ficava claro qual segmento o Skank pertencia, com Cidade Negra, O Rappa, Os Paralamas do Sucesso, misturando música brasileira com reggae. Agora, não. Estou sempre ouvindo coisas, mas não necessariamente coisas que acho importantes. Foi uma autorreferência.

Não queria, a qualquer custo, fazer um disco diferente, pretensioso. Queria contar sem qualquer crítica, suspender a crítica, e pôr para fora, tocar, ver o que esse encontro gera em termos de música. Foi um processo muito fluido, muito fácil. Não imaginava que fosse ser tão fácil. Diria que foi mais fácil fazer esse disco do que alguns álbuns do Skank.

E como que está a sua expectativa agora com a turnê? Como que você está se sentindo?

Estou animado. Eu não vou abandonar minhas músicas; continuo tocando minhas músicas. Não acho que há demérito nisso. Em momento algum eu disse que estava saindo das canções. Trouxe outras coisas que sempre gostei, coisas que gravei, mas não tocava no show, como “Tarde Vazia” do Ira! e “Oba Lá Vem Ela”, que gravei do Jorge Ben. Já estamos tocando mais da metade do álbum. E as novas músicas estão entrando sem maiores problemas, sem um choque, quando eu pulo de uma música da época do Skank para uma música nova agora.

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Não posso ter a expectativa de um veterano, porque como artista solo, eu sou um novato, estou construindo a minha carreira. Eu não consigo segurar um show inteiro com músicas inéditas, porque só tenho dez. Muita gente pode ouvir esse disco e dizer: “Mas você está no seu melhor momento!” Eu vou dizer que, em termos de alegria e realização com o meu trabalho, poucas vezes me senti tão bem nesses 30 anos.

Mas eu não tenho as garantias que tinha com o Skank. É uma mudança abrupta. Na música, para artistas com mais tempo de carreira, é uma das tarefas mais difíceis, porque as pessoas se apegam muito à história, às canções que foram relevantes para elas. Quando elas te olham, enxergam um pedaço da vida delas. Esse cara cantou a música que eu lembro quando estava entrando na faculdade, ou quando conheci meu parceiro, ou quando algo diferente aconteceu na minha vida. Você entra para a história da pessoa, e quando ela vai ao seu show e te acompanha, ela quer que você honre isso.

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(Lorena Dini/divulgação)

Sendo esse poeta do amor que conhecemos e que acompanha nossas histórias, parece que esse é um assunto muito caro para você e continua sendo a tônica do seu trabalho. Neste momento, de onde vem a inspiração para compor esse tipo de canção?

Eu estou na música pop há muito tempo. Mesmo no rock, a música popular, especialmente a música brasileira, tem o amor como tema majoritário. Do que mais falou a maior banda do mundo, Os Beatles? De amor. Há várias formas de falar de amor. Quando falamos de amor, falamos de tudo: culpa, raiva, frustração, alegria, entusiasmo, estresse, tensão, tudo. “Segue o Jogo” fala de um rompimento, que pode ser de várias coisas. Muita gente pergunta se é para o Skank, para algum relacionamento meu e tal. Mas eu me vejo, sim, como esse trovador. Ao longo dos anos, fui percebendo o que sou para as pessoas, o que minha voz representa para elas. Acabei percebendo que é inegável e irrefutável que minha voz endossa aquilo que canto.

Nesse disco, refutei qualquer tema que não passasse por falar de coisas mais íntimas, de relações interpessoais, de amores e desamores. Eu tinha outras ideias que falei: “Não, isso é mais para frente. Agora não é. Me dá orgulho saber que minha voz é moldura para as palavras, tanto quando escrevo as palavras, como no caso agora em que escrevi a melodia de todas as músicas do álbum. Quatro letras também são minhas, e fiz parceria com o Nando ou com o Chico Amaral. Acabamos nos tornando letristas também, porque tem sempre aquela troca, fazer um refrão aqui, mudar ali. Assim como os letristas também são melodistas. E, sim, eu me vejo muito nessa seara de cantar essas coisas, e o quanto isso toca e mexe com as pessoas. Às vezes, me pego até meio assustado, porque é minha voz que está passando essa emoção, minha voz é um veículo. Passa algo que toca uma pessoa. Enfim, é a brincadeira da música popular.

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(Lorena Dini/divulgação)

Como ficou a relação com os outros integrantes do Skank? Eles acompanharam a criação do “Rosa”? Você teve alguma troca com eles nesse sentido?

Não, nenhuma. Temos uma relação boa, uma relação de respeito, e acho que isso basta. Dentro do possível em um rompimento de uma banda, o Skank conseguiu o máximo; cuidamos do final como cuidamos do início. Sentamos à mesa, e eu coloquei de peito aberto a minha intenção. Vivemos um ciclo maravilhoso, com início, meio e fim. Já estou entrando no meu terceiro terço de vida e quero experimentar algo novo. Se há algo que tenho certeza de que construí, é um patrimônio que me respalda em coisas um pouco mais arriscadas. Talvez eu não ficasse feliz comigo mesmo, daqui a alguns anos, se olhasse para trás e me perguntasse: por que não brinquei com outra coisa, por que não fiz algo diferente? Então, é quase uma reparação, uma satisfação que estou dando a mim mesmo no futuro.

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O album de estreia da carreira solo (Rosa (2024)/divulgação)

 

Os próximos shows de Rosa acontecerão em:

Dia 9 de agosto: Vivo Rio | Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Dia 17 de agosto: Arena Hall | Belo Horizonte, Minas Gerais
Dia 31 de agosto: Teatro Positivo | Curitiba, Paraná
Dia 13 de setembro: Assembleia Paraense | Belém, Pará
Dia 14 de setembro: Shopping da Ilha | São Luís, Maranhão
Dia 20 de setembro: Iguatemi Hall | Fortaleza, Ceará
Dia 22 de setembro: Doce Maravilha | Brasília, Distrito Federal
Dia 28 de setembro: Concha Acústica | Salvador, Bahia

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