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Quartetos de corda para o futuro

Jovens talentos da música erudita se apresentam em Grande Concerto no encerramento da 19ª edição do Femusc, em Santa Catarina

Por Artur Tavares
Atualizado em 19 jan 2024, 13h23 - Publicado em 19 jan 2024, 13h07
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Grandes Concertos (Diego Redel/divulgação)
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Durante dez dias em janeiro, a cidade catarinense de Jaraguá do Sul sedia um dos principais eventos de música erudita e popular do circuito mundial, o Femusc. Criado pelo oboísta brasileiro Alex Klein, consagrado como solista principal da Orquestra Sinfônica de Chicago sob as regências de Daniel Barenboim e Pierre Boulez, o Femusc funciona como festival-escola, recebe professores, músicos e jovens promessas de mais de trinta países. Os mais talentosos são pescados ali mesmo, e já saem encaminhados para escolas internacionais de renome, como Julliard, Colburn, New England Conservatory, DePaul University e Universidade de Cincinnati, convidados a estudar com a possibilidade de bolsas.

Os músicos que vão até Jaraguá do Sul têm os mais diversos graus de formação musical. Aqueles que tocam instrumentos de corda e estão a um passo da profissionalização ingressam o programa Serioso, um curso intensivo e preparatório para os desafios da carreira. Neste ano, um dos destaques no corpo de educadores é a violinista brasileira Anna Murakawa, que foi aluna do Femusc no passado. “Ao longo desses 18 anos o Serioso criou um ‘clube’ de jovens excepcionais. Eles foram de grandes escolas de música do mundo, tanto dos EUA como Europa e Canadá, e alguns estão hoje em posição de relevância, como Jeremias Velázquez, que é segundo violino da Orquestra Metropolitan de Nova York, Eduardo Rios, que é spalla da Sinfônica de Seatlle e outros espalhados pela América Latina”, diz Alex Klein.

Nesta sexta-feira, 19, os alunos deste ano do Serioso se apresentam no Grande Concerto, que acontece no Grande Auditório do Centro Cultural SCAR – Sociedade Cultura Artística. Com o título de “Comforting the disturbed. Disturbing the comfortable”, a apresentação reúne o segundo movimento do “Quarteto de Cordas nº2 em Fá maior” de Piotr Ilitch Tchaikovsky; o segundo movimento do “Quarteto de cordas Nº 1 em Ré maior”, também do russo; e os terceiro e quarto movimentos do “Quarteto de cordas Nº 4 em Ré maior”, de Dmitri Shostakovich.

O Concerto de sexta-feira, que é gratuito, ainda tem outras duas apresentações. Bianca de Souza toca violoncelo solo na obra “Preludiando”, de Marisa Resende, e a Orquestra de Professores do Femusc, sob regência do professor Gordon Hunt no oboé, toca a “Sinfonia nº 4, Italiana”, de Felix Mendelssohn.

Nós conversamos com Alex Klein sobre o programa Serioso. Confira:

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Grandes Concertos (Diego Redel/divulgação)
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Quando Serioso começou, há quase 20 anos, quais eram as intenções de um programa dedicado a revelar músicos jovens de elite em instrumentos do quarteto de cordas? Duas décadas depois, qual o balanço do desse trabalho que tem se desempenhado com excelência desde então?
O projeto Serioso foi criado pelo Femusc em 2007 e o objetivo não foi necessariamente revelar jovens talentos, mas sim pegar aqueles bem adiantados nos instrumentos de corda e ensiná-los a formar quartetos. Como se começa a formar um quarteto de cordas. Ao longo dos anos adicionamos, junto ao professor Richard Young, o professor Richard Roberts e agora a professora Anna Muarakawa, que participou da primeira edição, em 2007.

Ao longo desses 18 anos, o Serioso criou um “clube” de jovens excepcionais. Eles vieram de grandes escolas de música do mundo, tanto dos EUA, como Europa e Canadá, e alguns estão hoje em posição de relevância, como Jeremias Velázquez, que é o segundo violino da Orquestra Metropolitan de Nova York, Eduardo Rios, que é spalla da Sinfônica de Seatlle, e outros espalhados pela América Latina. E um ajuda o outro. O clube se tornou basicamente uma associação entre eles.

O Femusc se desenrola em dez dias e, ao final, reúne os jovens do Serioso em uma orquestra de câmara para uma apresentação. Como é a rotina desses músicos durante o Femusc e para onde eles vão continuar seus estudos e suas apresentações quando o festival acaba?
Nós temos a expectativa que o choque de conhecimento que ocorre nos 10 dias de Femusc ainda vá levar três ou quatro meses para ser mastigado pelos alunos quando eles voltarem para casa. E a partir daí vão ver o verdadeiro produto educacional que experimentaram aqui.

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A agenda é muito intensa. A escola abre às 7h30, ensaios às 8h30, e temos alunos estudando até 22h. E nesses dez dias, os alunos entram no palco pelo menos sete ou oito vezes. Ou seja, praticamente todos os dias tocam em algum lugar, quando não tocam em dois concertos no mesmo dia.

A ideia é entender o lugar do músico no palco. E temos que desmistificar a ideia de fazer um concerto na qual o músico passa o dia se preparando, porque cria uma expectativa irreal. Não é o lugar do músico ficar se preparando como se houvesse apenas um concerto na vida. Entrar no palco e tocar obras difíceis, como as Sonatas de Ysaÿe [o compositor e violinista belga Eugène Ysaÿe] e outras coisas dificílimas que esses alunos tocam regularmente aqui, deve ser a coisa mais natural do mundo: entrar no palco e tocar. Inclusive nós estimulamos que eles não se vistam de maneira excepcional. Se vestem bem para o concerto, mas com roupas normais. A ideia é tratar o psicológico, de modo que gente tire esse fantasma do palco.

A agenda deles é tão intensa nesses 10 dias que não dá tempo de pensar no que está acontecendo. Então, quando retornarem para suas casas, para suas escolas e aulas, esses mecanismos que aprendem aqui vão começar a aparecer, e vão começar a pensar. A estrutura e currículo do Femusc são feitos dessa maneira.

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Grandes Concertos (Diego Redel/divulgação)
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Um dos grandes atrativos do Femusc é trazer professores internacionais renomados. Pode me falar um pouco dos convidados deste ano e o trabalho que eles desempenham promovendo o intercâmbio entre os músicos que estão participando aqui e suas instituições, mas também trazendo promessas e revelações destes lugares aqui para o Brasil?
Importante para o nosso jovem é não ficar para trás, Sabemos que a curva do conhecimento está crescendo muito mais rápido em países ricos da América do Norte, Europa e Japão do que em países emergentes. A nossa educação está crescendo, mas não na mesma altura. A desigualdade está aumentando e não diminuindo, e nós vamos seguir sendo um país em que o povo fica pra trás. Isso precisa ser enfrentado. Por isso, escolho professores que não são só exímios intérpretes, com carreiras de instrumentista e experiências de ensino, mas que são humanistas, que veem um jovem aqui e que não importa de onde esse jovem veio, seja qual país ou circunstâncias financeiras, que irão dar informação e experiência a esse jovem. Assim, vamos acelerar nossa curva de aprendizado na esperança de alcançar os países ricos.

Para isso, precisamos de professores que tenham experiência naquele eixo lá de cima, podem ser estrangeiros e podem ser brasileiros que lá estiveram, se deram bem e podem voltar aqui, como Luiz Garcia e Fernando Dissenha, que são brasileiros e moram aqui, mas estiveram lá fora e nos trazem informação. Em outras palavras, dão um abraço de conhecimento e experiência.

O Femusc se encerra neste final de semana e então começa a preparação para seus 20 anos, em 2025. O que vocês estão planejando para essa celebração?
Uma boa pergunta. É um pouco cedo para responder. Mas o que está sendo planejado e vai ser valorizado é o que o Femusc fez para Jaraguá do Sul, que se transformou numa meca de música internacional e valorizou muito a cidade, as nossas indústrias e também as escolas. Isso será valorizado através do nosso programa orquestral, talvez através de ópera.

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O grande coringa de tudo isso é a economia do Brasil, pois se dependemos da Lei Rouanet, dependemos das indústrias irem bem. E nós não somos os únicos que dependem da Lei Rouanet nessa região, então temos que respeitar também outros projetos e vamos ver o quanto que pode ser esperado de nossa captação, e com isso vamos planejar o Femusc 2025. Acredito que não teremos uma resposta mais concreta para isso até abril ou maio, quando se pode ter uma ideia melhor de como estará a economia do Brasil em 2025.

19º Festival de Música de Santa Catarina

Até 2 de janeiro de 2023
Locais: Centro Cultural SCAR e espaços da cidade de Jaraguá do Sul – SC

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