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Músicos e artistas analisam o futuro dos festivais no Brasil

Marcelo D2, Emicida, Pitty e outros músicos avaliam o momento de cancelamento de shows e fim de eventos musicais no país

Por Beatriz Lourenço
Atualizado em 21 jun 2024, 13h10 - Publicado em 17 jun 2024, 09h00
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O público durante o show Travessia (Rafael Cautella/divulgação)
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O fim da pandemia reacendeu o cenário cultural do Brasil. Se antes os festivais de música eram, em sua maioria, focados nas capitais do Sudeste, a retomada redefiniu esse formato: Recife, Brasília, Salvador e o interior dos estados passaram a receber grandes shows. Segundo levantamento do Mapa dos Festivais, 2023 teve um aumento de 54% no número de festivais em relação ao ano anterior. 

Neste ano, o cenário é outro. O público está se deparando com eventos cancelados ou adiados, como é o caso do Doce Maravilha Curitiba, Límbico Festival, Rap Game Festival, Planeta Terra Festival, entre outros. Alguns fatores entram nessa conta: o alto custo de produção, a baixa venda de ingressos, o aumento do preço das passagens aéreas e a falta de patrocínio. 

Há quem diga que esse movimento é natural, outros concordam que os artistas estão sendo diretamente impactados pelo momento de incerteza. Bravo! conversou com os headliners do João Rock 2024 para entender quais são suas perspectivas. Confira:

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(Djonga/divulgação)

Djonga

“Precisamos ver essa situação com o sindicato (risos). Acho que já foi o momento do músico acreditar que vai fazer o grande show da sua vida em um festival. Hoje, tocar em festivais é mais um show comum de 40 minutos – se tornou um movimento mercadológico. É claro que os festivais que têm conceito são os mais animadores.”

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(Rafael Cautella/divulgação)
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Emicida

“Estamos nos ajustando nessa nova realidade. A expectativa de que o boom de festivais fosse contínuo é um pouco equivocada. A tendência é que as coisas se ajustassem e, agora, teremos o desafio enquanto indústria de pensar qual é o melhor formato para apresentar nossa música para o público.” 

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(Loiro Cunha/divulgação)

Maria Gadú

“Sou de uma época em que existiam pouquíssimos festivais. Antes, esses eventos não eram tão disseminados pelo país. Quando os primeiros festivais começaram a acontecer, não eram acessíveis para todos. Acho que estamos vivendo uma equação: um festival raíz cresceu e agora está abrindo para outras vertentes musicais, alguns acabam por falta de incentivo. Enfim, tivemos uma pandemia severa há pouquíssimo tempo atrás, junto com um governo horroroso que quebrou o país. Ou seja, estamos vivendo uma certa retomada do que vai ser o Brasil na pluraridade que ele merece. Musicalmente, nosso país é multiplo. Por isso, festivais de mais diversos estilos são necessários.”

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(Rafael Cautella/divulgação)
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Marcelo D2

“O mundo da música é cíclico e tem seus momentos bons e os mais difíceis. O pessoal da cultura foi muito sagaz em transformar esse período pós-pandemia em um boom de festivais. Gosto muito de me apresentar em eventos diversos que o público pode ver CPM 22, depois Marcelo D2 e Paralamas. Não sei se o mercado está saturado, acabamos de sair do palco com 70 mil pessoas nos assistindo. Acho que os festivais que conseguiram se consolidar vão continuar por aqui. Faço música há 30 anos, acho que ela vai existir enquanto a gente tiver uma mão para batucar e uma voz para cantar. O interessante é que essa mudança ativa o próprio artista a renovar seu trabalho.”

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Pitty (Rafael Cautella/divulgação)

Pitty

“Estamos vivendo uma sequência natural. Viemos de uma pandemia que prendeu todo mundo em casa e fez com que todos descobríssemos novas formas de fazer arte. A tecnologia deu um salto gigantesco porque a gente necessitava muito dela naquele momento. De repente, voltamos a vida real e sentimos uma ressaca tecnológica – deu uma vontade gigantesca de ver gente e sentir pessoas. Agora estamos entrando um outro momento, mas ainda vivendo as consequências desses anos que nos prenderam em casa.”

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(Rafael Cautella/divulgação)
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Tássia Reis

“Muitos festivais surgiram para suprir nossa necessidade de sair de casa. Mas, agora, estamos em um momento de nos sentir saturados – com a internet, com a imagem e com a repetição de tantas coisas que estão acontecendo. Sinto que, como curadoria, o mais importante é que os eventos não deixem de trazer novos artistas. Não necessariamente aquele que está começando, mas que é muito bom e precisa ser apresentado para o público. Isso é essencial para a subsistência do mercado musical como um todo. Além disso, novos sons ajudam a ‘desviciar’ e renovar as pessoas que querem só ouvir aquele mesmo cantor.” 

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(Rafael Cautella/divulgação)

Tico Santa Cruz

“Um festival se destaca pelo line-up. Uma boa curadoria faz diferença não só para quem vai assistir, mas também para quem vai tocar. Hoje, há festivais internacionais no Brasil que levam nosso nome para o mundo todo. Os locais, por outro lado, nos conectam com públicos muito diversos. Acredito que o segmento do rock está indo muito bem – apareceram novos eventos em Recife, na Paraíba e até no interior de São Paulo. Sinto que temos demanda e os shows estão sempre cheios. Por outro lado, o Brasil é um país que tem questões econômicas importantes e há mais de um festival por mês. Por isso, é possível que pessoas priorizem um só. Fica muito caro ir em todos. 

Acho que uma solução imediata é pensar no valor do ingresso e uma mais utópica é criar um calendário de festivais para que o público consiga se organizar. Além disso, também é importante a renovação do line-up: não adianta chamar as mesmas bandas e esperar uma presença massiva.”

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