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Vladimir Safatle lança trilogia de análise crítica

"Em um com o impulso" inaugura novos trabalhos do filósofo. Sesc Pinheiros tem evento com participações de Wisnik e Arrigo Barnabé na quarta, 7

Por Da redação
6 dez 2022, 15h43
Em um com o impulso, de Vladimir Safatle
 (Editora Autentica/reprodução)
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Quem estiver em São Paulo na próxima quarta-feira, 7, tem a oportunidade de conferir o filósofo Vladimir Safatle lançar Em um com o impulso, primeiro livro de uma trilogia de publicações que abordam a estética e a construção social através da análise crítica. O evento acontece no Sesc Pinheiros onde, às 20h, ele participa de uma mesa junto de José Miguel Wisnik e Arrigo Barnabé. Mais tarde haverá um concerto com Carol Decomi, Fabiana Lian, Renan Vitoriano, Valentina Ghiorzi, o próprio Vladimir Safatle, que é pianista, além de outros convidados.

Vladimir Safatle
(Vladimir Safatle/divulgação)

Chileno, professor da Universidade de São Paulo, comunicador e finalista do Prêmio Jabuti deste ano na categoria de não-ficção, Vladimir Safatle abordará as relações entre arte e política nesta trilogia da qual Em um com o impulso faz parte, chamada de Experiência Estética e Emancipação Social. Ele explica o fundamento básico em nota que abre a primeira edição: “Esse livro é só um bloco. Há ainda mais dois blocos. Então, são três blocos. O que os une é a procura em pensar a relação entre experiência estética e emancipação social. Quis a tendência de contar de trás para a frente, adquirida desde a infância, que o autor desse livro fosse levado a tentar começar do começo. As partes do todo ficaram assim divididas cronologicamente. Aqui, é questão de um processo de constituição da autonomia estética que vai do que seria seu começo (ou um deles) até o século XIX. Um livro sobre o romantismo, então. Sobre o romantismo e seu desejo de sublime e de expressão liberada das amarras da convenção […] A segunda parte será sobre o modernismo, ou melhor, sobre a capacidade modernista de construir espaços, de construir povos, com todo o misto de redenção e violência que isso possa significar. […] Já o terceiro bloco será sobre a produção estética em uma espécie de ‘contemporaneidade estendida’ (porque, afinal, não se vive totalmente no presente, ou melhor, porque o ‘presente’ é uma espécie de ilusão inefetiva) e sobre algumas de suas estratégias de produção de modelos de emancipação. O autor não consegue deixar de acreditar que tais modelos estão lá onde nem todo mundo acredita que eles estejam.”

Neste primeiro bloco de Experiência Estética e Emancipação Social, Safatle traça um panorama da produção artística a partir de meados do século 18, dedicando espaço para músicos como Beethoven e poetas como Paul Celan, analisando as influências dos movimentos que participaram na construção do pensamento da sociedade moderna. Confira trecho:

“Barnett Newman, em um importante texto sobre o sublime escrito anos após a Segunda Guerra, afirmava: ‘o impulso da arte moderna foi o desejo de destruir a beleza’. A frase tem o mérito da expor um ponto de tensão no interior do projeto moderno, ponto no qual a realização da arte só pode aparecer como uma forma específica de destruição. Como se algo fundamental na experiência estética que nos acompanhou até agora não soubesse o que fazer com o horizonte de reconciliação prometido pelo equilíbrio das formas e do livre jogo das faculdades próprio ao belo.

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De toda maneira, a afirmação de Newman tinha a força de ressoar um gesto já bastante arraigado não apenas na arte moderna. Pois a ideia de que o impulso da arte estaria em certo desejo de destruição não era, exatamente, um produto do século XX. Vale nesse contexto o que bem compreendeu Lyotard: ‘As vanguardas pictóricas realizam o romantismo, ou seja, a modernidade, que é, no sentido forte e recorrente (que já está presente em Petrônio e Santo Agostinho), o desfalecimento da regulação estável entre sensível e inteligível.’

Havia aqui uma peculiar ‘metanarrativa’ que vinculava, de forma orgânica, romantismo e modernismo em um quadro ainda mais amplo. Essa era outra maneira de compreender o desenvolvimento da forma estética na arte moderna. Não se tratava da narrativa da destruição paulatina da teatralidade por um processo autorreflexivo de desvelamento dos modos de produção da aparência estética, como vimos no segundo capítulo deste livro. Na verdade, o desenvolvimento da forma estética poderia ser compreendido a partir da destruição progressiva da capacidade de regulação entre sensível e inteligível prometida pela beleza. E é nesse sentido que seria possível afirmar: ‘o sublime é talvez o modo da sensibilidade artística que caracteriza a modernidade’.

Essa leitura tinha o mérito de compreender que a forma estética, ao menos a partir do romantismo, tendia a se realizar como expressão da irreconciliação social, pois tal desregulação entre sensível e inteligível não é exatamente um princípio inscrito em alguma realidade ontológica das obras. Ela é marca de uma desregulação objetiva no interior da vida social. Uma desregulação entre forças produtivas e relações de produção, entre força e forma que caracteriza tempos históricos nos quais a reversão das relações, a recomposição dos lugares sociais aparece como horizonte hegemônico de luta. Essa desregulação encontra um campo privilegiado de tensão nas obras de arte que recusam submeter a dimensão sensível ao pretenso controle produzido pelas categorias do entendimento. Nesse sentido, a preservação do conteúdo de verdade das obras que procuram fornecer aaisthesisda emancipação social não poderia deixar de passar pelo impulso de destruição da beleza, com a consequente liberação do sensível das medidas que visam determinar seu significado. O que implicava elevar o sublime à categoria de eixo efetivo de desenvolvimento da forma estética. Dessa forma, o sublime podia se tornar a mais clara expressão da centralidade do conceito de força como categoria estética.

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Em um com o impulso, de Vladimir Safatle
(Editora Autentica/divulgação)

Em um com o impulso está sendo lançado pela editora Autêntica. Vale lembrar que o evento no Sesc Pinheiros é gratuito. As senhas para os lugares na plateia começam a ser distribuídos duas horas antes do início, às 18h.

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