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Entenda como livro ‘Guerra e Paz’, de Tolstói, revolucionou o século XIX

Romance constitui um vasto panorama da Rússia Czarista durante Guerras Napoleônicas

Por Redação Bravo!
14 Maio 2024, 09h00
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Batalha de Waterloo em tela de Clément Auguste Andireux. Guerra contada por personagens (Clement Auguste Andrieux/domínio público)
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“O irmão mais velho de Deus.” Foi essa alcunha dada pelo historiador Paul Johnson ao escritor russo Leon Tolstói no ensaio que lhe dedicou em seu livro Os Intelectuais. Polêmicas do britânico à parte, Tolstói foi, de fato, um homem extremamente ambicioso. Aos 22 anos, quando combatia na Guerra da Criméia, contra ingleses, franceses e turcos, escreveu em seu diário: “Tenho de me acostumar com a idéia de que sou uma exceção, de que estou à frente do meu tempo”.

Desde sua meninice, refletida em seus três primeiros livros, Infância (1852), Adolescência (1854) e Juventude (1857), Tolstói pressentia que estava destinado a grandes projetos. Sua mãe descendia de uma tradicional família aristocrática, os Volkonsky, e dela o escritor herdou a arrogância com que desfilava entre seus pares nos salões da Rússia czarista. Da genitora recebeu também a enorme propriedade de Iasna Poliana, com 4 mil acres e mais de 300 servos, onde nasceu.

Foi essa Rússia servil, aristocrática, expansionista e ditatorial – que Tolstói conhecia profundamente após cinco anos no Exército e uma vida nos círculos aristocráticos – a matéria-prima com a qual ele erigiu suas grandes obras. Guerra e Paz (1869), nesse sentido, é uma realização monumental sob todos os aspectos. Composta de seis volumes, foi publicada inicialmente de forma seriada na revista Mensageiro Russo. O autor levou cinco anos para concluí-la.

O livro trata do confronto das forças do czar russo Alexandre I com os exércitos napoleônicos, em um período que vai de 1805 a 1820, aproximadamente. Tolstói apresenta um amplo painel da vida russa do início do século 19, construído a partir de personagens tanto reais quanto fictícios o que faz da obra um exemplar do gênero do romance histórico, ao lado de clássicos como Ivanhoé (1819), do escocês Walter Scott (1771-1832).

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Leon Tolstói (gravura / wikicommons/domínio público)

Tolstói, porém, negava-se a qualificar o livro, a respeito do qual disse não ser “nem um romance, nem um poema, nem sequer uma crônica histórica”. De fato, a construção dos cenários das batalhas napoleônicas – com destaque para Austerlitz e a retirada final das tropas francesas derrotadas pelo Exército e pelo inverno russos –, combinada com a in- tricada trama ficcional que reúne mais de 100 personagens, aproxima a narrativa de uma epopéia. O ambicioso russo diria: “Sem falsa modéstia, Guerra e Paz é assim como a Ilíada”, numa alusão à obra de Homero.

Apesar do sentido político que Tolstói quis emprestar à obra, entremeando-a de digressões teóricas, Guerra e Paz é, sobretudo, um extenso panorama realista. Aqui se associam a aristocracia frívola e os grandes generais, a um tempo arrogantes e heróicos, ao retrato das massas de soldados depauperados e dos servos e mujiques, que representavam a camada mais baixa do sistema de propriedade russo, de raízes feudais. Emergia, assim, uma sociedade em conflito, entre uma cultura externa francesa mal assimilada e a própria história, cujas estruturas pareciam clamar por uma renovação.

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Em seu vasto projeto, em que procurou abarcar todo o sistema político, social e artístico de uma época, um país, uma sociedade e um povo, o romance de Tolstói abre as portas para o universal. A respeito do livro, o crítico inglês Orlando Figes escreveu: “Guerra e Paz funciona como uma imensa estrutura poética que serve para a contemplação das questões fundamentais de toda existência. É possível retornar inúmeras vezes a ela e sempre encontrar novos significados e novas verdades”.

Este texto faz parte do especial “100 livros essenciais da literatura mundial”

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Bravo! especial: 100 livros essenciais da literatura mundial (Bravo!/arquivo)
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