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100 livros essenciais: O Guarani, de José de Alencar

Inicialmente publicada em folhetim, saga indianista trata da formação da nacionalidade brasileira

Por Redação Bravo!
Atualizado em 20 jun 2024, 12h02 - Publicado em 20 jun 2024, 10h00
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Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/ Fundação Estudar. Doação da Fundação Estudar, 2007 (aquarela de Giulio Ferrario, a partir de gravura de Maximilian, Prinz von Wied. Foto: Isabella Matheus/domínio público)
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José de Alencar publicou O Guarani inicialmente em forma de folhetim no ano de 1857, durante três meses. Cada capítulo da história era esperado ansiosamente pelos leitores, que disputavam as páginas do jornal para acompanhar essa saga e as liam nas ruas do Rio de Janeiro. Nascido em 1829, em Mecejana, no Ceará, Alencar conquistava definitivamente o gosto popular com uma das obras mais significativas do romantismo brasileiro.

O romance se passa no Rio, em 1604. O amor entre o indígena guarani Peri — o “bom selvagem” do filósofo iluminista francês Jean-Jacques Rousseau, nobre e puro — e a moça branca Ceci serve ao autor para traçar um painel da formação do povo brasileiro. Ceci, filha do fidalgo português dom Antônio de Mariz, tinha sido prometida pelo pai a um nobre compatriota, dom Álvaro. Este a disputa com o aventureiro italiano Loredano. Depois que uma índia aimoré é morta por engano pelos portugueses, inicia-se uma guerra da tribo contra a família de Ceci.

 

Paralelamente, uma conspiração de Loredano contra dom Antônio é tramada. Peri, que intervém sempre a favor da família portuguesa e confessa seu amor a Ceci, não tem como impedir nas cenas finais a explosão do solar onde ela mora. Recebe do pai desta o pedido para que fujam e a bênção para que se casem. Já tendo enfrentado toda sorte de perigos e diante da inundação do rio Paraíba causada por uma tempestade, o casal escapa da morte graças ao ato maior de Peri: ele arranca sozinho uma palmeira e a usa como barco para fugir com Ceci.

O romance termina sugestivamente: “Ela embebeu os olhos nos olhos de seu amigo, e lânguida reclinou a loura fronte. O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e límpidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o voo. A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia… E sumiu-se no horizonte”. As duas raças entram em comunhão para dar origem à nação brasileira.

O Guarani, transformado em ópera pelo compositor Carlos Gomes, pertence à chamada vertente indianista de Alencar. Escritor de larga produção, estreou aos 27 anos com Cinco Minutos (1856), publicado como folhetim no Correio Mercantil. Escreveu romances que seriam classificados ainda como urbanos, históricos e regionalistas.

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O autor seguiu um ambicioso projeto nacionalista que reproduzia as linhas do romantismo europeu adaptadas para o Brasil. Se em Iracema (1865) e Ubirajara (1874) os indígenas eram protagonistas, em O Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875) outros personagens entraram para a sua galeria.

A Guerra dos Mascates (1873) é um exemplo do uso da história brasileira como pano de fundo para um drama. Segundo a crítica, o melhor de Alencar estaria nas obras urbanas, como Lucíola (1862) e Senhora (1875). Para alguns, essa vertente teria possibilitado que Machado de Assis surgisse e aprofundasse a análise da sociedade brasileira.

José de Alencar faleceu no Rio, em 1877, vítima de tuberculose. Dedicou-se à carreira política e chegou a ser ministro da Justiça. Foi também dramaturgo e colaborou largamente na imprensa como ensaísta político de ideias conservadoras.

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Este texto foi originalmente publicado em 2009 como parte da coleção especial da Bravo! 100 obras essenciais da literatura brasileira. 

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Bravo! especial: 100 livros essenciais da literatura brasileira (Bravo!/arquivo)
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