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100 livros essenciais: “1984”, de George Orwell, segue revolucionário

Alegoria dos regimes totalitários, obra passou para a história como uma das mais bem-acabadas peças literárias sobre a opressão do homem sobre o homem

Por Redação Bravo!
Atualizado em 9 Maio 2024, 18h25 - Publicado em 9 Maio 2024, 09h00
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Cena do filme de Michael Anderson (1956) baseado na obra de Orwell (Michael Anderson/reprodução)
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O romance 1984 foi lançado um ano antes da morte de seu autor, George Orwell (1903-1950). Em 1949, Eric Arthur Blair, seu nome verdadeiro, achava-se isolado em um casebre no arquipélago escocês das ilhas Hébridas. Doente e desgostoso após uma vida de militância política, redigiu as páginas que passariam para a história literária como uma das mais contundentes escritas contra os regimes totalitários.

Nascido em Bengala, na Índia sob ocupação britânica, era filho de um pequeno funcionário público. “Cresci na camada inferior da classe média superior”, diria mais tarde sobre suas origens. Já na Inglaterra, tornou-se um aluno brilhante e concluiu os estudos secundários com uma bolsa no prestigioso colégio de Eton, em 1921.

Voltou para o território asiático a fim de ingressar na Polícia Imperial Indiana, na Birmânia. Ali, ao conhecer de perto a opressão do sistema imperial, abandonou o posto em 1928, decidido a tornar-se escritor. Regressou para a Europa, onde sobreviveu como garçom, lavador de pratos e auxiliar de cozinha. Dormiu em albergues públicos e vagou pelas ruas ao lado das hordas de mendigos e vagabundos. Suas impressões sobre esse período, que o aproximou ainda mais dos ideais socialistas, estão em Na Pior em Paris e Londres (1933).

Em 1936, a convite do Left Book Club, escreve The Road do Wigan Píer, sobre a situação do desemprego no norte da Inglaterra; lançada no ano seguinte, a obra se torna um marco do jornalismo literário moderno. Nessa linha, Orwell publica, em 1938, Homage to Catalonia, sobre suas experiências como voluntário de uma facção trotskista do Exército Republicano durante a Guerra Civil Espanhola.

Orwell manteve uma coluna no jornal londrino Tribune durante a Segunda Guerra, além de ter redigido diversos outros artigos e ensaios, que seriam postumamente reunidos no volume Collected Essays, Journalism, and Letters. No último ano da guerra, publica A Revolução dos Bichos (1945), que lhe traria fama literária. Nessa sátira em estilo alegórico do stalinismo, um grupo de animais cansados de ser explorados pelos seres humanos desenvolve um sistema de governo igualitário que acaba não se sustentando na prática.

Em 1984, a censura a um regime específico transforma-se em uma crítica acerba contra o totalitarismo e, de certa forma, contra qualquer regime político, social, religioso ou econômico que cerceie a liberdade. O mundo apresentado no romance está dividido em três grandes regiões – Lestásia, Eurásia e Oceania – dominadas por ditaduras mantidas graças ao temor (criado pela propaganda) de um imaginário inimigo externo.

Na Oceania, onde reside o protagonista Winston Smith, o ditador é identificado pela alcunha de Grande Irmão. Ele controla o cotidiano e se comunica com a população por meio das teletelas, presentes em todos os ambientes públicos e privados. A Novilíngua imposta pelo governo como idioma oficial restringe ao máximo a capacidade de expressão pessoal. O Ministério da Verdade, do qual Smith é funcionário de baixo escalão, encarrega-se de “corrigir” os registros históricos, reescrevendo livros, jornais e editando fitas e discos de acordo com a ideologia e conveniência do Grande Irmão.

Ao conhecer Júlia, suposta agente de uma sociedade secreta libertária, Smith envolve-se em uma trama policialesca na busca de meios para escapar ao controle estatal. O estado de desengano que emana da obra, sobretudo em seu desenlace amargo, expressa o sentimento do próprio autor – desiludido com um mundo ao qual dedicara extraordinário esforço humano e de análise, mas no qual já não acreditava mais.

Esta resenha do livro “1984”, de George Orwell, faz parte da revista Bravo! especial: 100 livros essenciais da literatura mundial, lançada em 2007

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Capa da revista Bravo! especial: 100 livros essenciais da literatura mundial, lançada em 2007 (Bravo!/arquivo)
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