Brasil, torto e arado
E mais: Biografias de Fernanda Montenegro e Paulo Freire; a poesia de Clarice Lispector para o teatro; e o olhar infantil sobre uma tragédia escolar
O premiado livro Torto Arado, do baiano Itamar Vieira Junior, que tem feito sucesso na Europa, chega agora ao Brasil pela Todavia. A história conquistou a crítica especializada no mundo todo e traz uma reflexão sobre a insubordinação social tendo como cenário o sertão da Bahia. A narrativa gira em torno de uma comunidade de trabalhadores, em uma fazenda no sertão, e é narrada por duas irmãs protagonistas. Já o fim é narrado por um espírito que atravessou o Brasil colonial e o período da escravidão. O título veio dos versos de Tomás António Gonzaga, do poema Marília de Dirceu. É um texto com solidez em sua construção, da forma evidente diante do equilíbrio narrativo e da ênfase às figuras femininas.
Formado em Geografia e doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Itamar carrega desde muito jovem a habilidade da escrita, apesar de só ter investido em sua carreira literária na fase adulta, após a sólida formação acadêmica. Aos 11 anos de idade iniciou seus primeiros escritos usando uma máquina de escrever, mas foi na fase adulta que o escritor do início da adolescência ganhou vida.
“Estreia extraordinária”
É assim que o escritor best-seller Harlan Cohen descreve o primeiro romance de Rhiannan Navin, O Menino Que Sobreviveu, que acaba de ser apresentado no Brasil; o enredo acompanha uma tragédia escolar, que deixou 19 mortes, pela visão de um menino de seis anos, Zach, que no tiroteio também perdeu seu irmão mais velho. A obra é lançada pela Editora Leya e promete ser um dos livros mais comentados deste segundo semestre no país.
Dama da dramaturgia
O livro de memórias de Fernanda Montenegro que a Companhia das Letras publica em setembro já está com pré-venda online. A obra Fernanda Montenegro: Prólogo, Ato e Epílogo é uma parceria da atriz com a jornalista Marta Góes. A expectativa é conhecer os bastidores da história da maior referência no teatro, no cinema e na TV brasileira da atualidade. Não é novidade esta versão autobiográfica de Fernanda. A artista investiu em 2018 num projeto de fotografias, muitas delas retiradas de seu acervo pessoal, e recontou sua história nos palcos e nas telas com o lançamento do livro Fernanda Montenegro: Itinerário Fotobiográfico.
Atemporal
Em tempos de radicalismos ideológicos no país, Sérgio Haddad, doutor em história e filosofia da educação pela USP, lança O Educador: Um perfil de Paulo Freire, espécie de biografia do lendário educador recifense. O livro com selo da Todavia refaz o percurso de Freire sem aderir à disputa ideológica, revelando as muitas facetas de um intelectual complexo e decisivo para a cultura brasileira.
Janelas de Clarice
Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, a acadêmica Iris Marcolino, estudiosa da obra de Clarice Lispector, protagoniza o monólogo No Silêncio da Palavra, que mistura os contos da escritora com o novo projeto da caruaruense, Meu Ser-tão Agreste. No palco, Íris transita por janelas e telas que representam o olhar para o outro, numa bela mistura de filosofia, arte e psicanálise. Estreia na sexta-feira (9) no Teatro Rui Limeira Rosal, do Sesc Caruaru.
De Jane Austen à Jane Eyre
Ícone da cultura feminista e da crítica social, Virginia Woolf escreveu vários ensaios sobre o envolvimento das mulheres na literatura — desde a autora Jane Austen às personagens Jane Eyre e Catherine Earnshaw (de O Morro dos Ventos Uivantes). Agora, todas essas relíquias estão reunidas na coletânea Mulheres e Ficção (Penguin Companhia).
O perdão
Em Todos os Santos (Alfaguara), de Adriana Lisboa, é possível transitar nas águas da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e do rio Manawatu, na Nova Zelândia. É entre passado e presente que este romance traz uma luz sobre o que é o perdão.
*Diana Bezerra é jornalista foi colunista da Bravo!