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Arte e educação de mãos dadas no MAM

Exposição "Elementar: Fazer Junto" traz intersecção entre o acervo artístico e educativo do Museu de Arte Moderna, que completa 75 anos em 2023

Por Humberto Maruchel
3 jul 2023, 11h38
Paisagem 2
Paisagem 2 (Mabe Bethnico/arquivo)
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Há uma antiga relação de cumplicidade entre a arte e a educação. No entanto, nem sempre essa conexão é muito evidente ao visitarmos uma exposição. Por vezes, a equipe educativa desempenha um papel secundário, ajudando o público com dúvidas ou instigando-o com questões para que as obras adquiram um sentido mais amplo e próximo do visitante. O Museu de Arte Moderna de São Paulo decidiu dar uma nova direção à sua equipe educativa e abrir esse diálogo por meio da mostra Elementar: Fazer Junto, inaugurada em junho.

Explorar uma exposição de arte sempre é um percurso complexo, onde muitas vezes nos deparamos com limitações, como regras de distanciamento, proibição de fotografias ou de tocar nas obras. Em outros momentos, o público é convidado a se envolver de forma mais expressiva com as obras expostas. É necessário estar atento aos sinais. Apesar desse emaranhado, as instituições buscam cada vez mais reduzir a distância entre a arte e seu público. Existem várias maneiras de fazer isso, e a educação é uma delas.

Foto
Chelpa Ferro Tot | Treme Terra, 2006 (Foto: Renato Parada/arquivo)

Com curadoria de Valquíria Prates, Mirela Estelles e Cauê Alves, Elementar: Fazer Junto nasceu da reflexão sobre o que é essencial para estabelecer uma conexão com o outro. Isso leva em consideração não apenas a atividade curatorial ou a relação entre arte e visitante, mas também as conexões cotidianas que muitas vezes parecem invisíveis e que nos afetam constantemente. Para isso, foram selecionadas mais de 70 obras do acervo, incluindo pinturas, instalações, fotografias, entre outras. Essas obras expressam a ideia dos quatro elementos da natureza e também revelam, na visão dos curadores, as complexidades de viver e ser constantemente afetado pelo outro. Ao percorrer a sala Milú Vilela, é possível encontrar preciosidades de artistas como Claudia Andujar, Cildo Meireles, Franz Weissmann, German Lorca, José Leonilson, Paulo Bruscky, Tarsila do Amaral, Tatiana Blass, entre outros.

Jos Leonilson | Ninguém tinha visto, 1988
Jos Leonilson | Ninguém tinha visto, 1988 (Foto: Ding Musa/arquivo)
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Elementar, explica Mirela Estelles, coordenadora do setor educativo do museu, na curadoria da exposição, significa “fazer junto”, um conceito que também destaca os processos institucionais envolvidos na montagem de uma exposição, englobando todas as equipes do museu, e não apenas a curadoria educativa. É fundamental pensar e fazer arte com artistas, curadores, educadores, professores, crianças, idosos, envolvendo uma diversidade de perspectivas e olhares para vivenciar experiências distintas em uma exposição de arte.

O que é novo nessa exposição, lembra Mirela, é que a curadoria e a equipe educativa trabalharam juntas desde o desenvolvimento da programação até as abordagens com o público. “Tudo isso é planejado desde o início, considerado pelo arquiteto na disposição das obras, onde as experiências de estar, permanecer e conviver são evidenciadas na construção dos mobiliários.”

Opavivar Espreguiadeira Mlti | Cadeira de três lugares sofá de praia cadeira conversadeira, 2010
Opavivar Espreguiadeira Mlti | Cadeira de três lugares sofá de praia cadeira conversadeira, 2010 (Marcelo Arruda/arquivo)
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Logo na entrada da sala, o público encontra uma área onde é convidado a tocar, jogar e até mesmo criar atividades que permanecerão expostas até o final da exposição, algo que nem sempre é permitido em galerias ou museus. Serão realizadas atividades semanais com o público e a equipe educativa nesse espaço. Algumas das fotografias e pinturas dispostas no local foram transformadas em obras inclusivas, criadas em alto-relevo, para que pessoas com deficiência visual também possam conhecê-las. E, é claro, para que todos os visitantes possam experimentá-las de outras maneiras, além do olhar.

German Lorca | Ibirapuera, 1998
German Lorca | Ibirapuera, 1998 (Foto: Romulo Fialdini/arquivo)

A curadora convidada Valquíria Prates, que possui vasta experiência com educação em exposições de arte, conta que há muito tempo vem estudando o conceito de “fazer junto”, não apenas no sentido de fazer arte, mas também nos desafios cotidianos, como questões ambientais, relacionais e institucionais, superando os conflitos entre humanos e também não-humanos.

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“Tanto as obras quanto as experiências poéticas e reflexões presentes no catálogo podem ser consideradas pistas e pontos de partida para que o público possa, junto conosco, pensar e sentir o que é essencial no ato de fazer junto, indo além de fórmulas simplificadas que veem apenas a colaboração como aspecto idealizado, excluindo os conflitos e as tensões”, ela diz.

Claudia Andujar | Maloca rodeada de folhas de batata doce da série A casa, 1974
Claudia Andujar | Maloca rodeada de folhas de batata doce da série A casa, 1974 (Foto: Terra verde/arquivo)

Uma das funções do setor educativo é quebrar algumas barreiras e derrubar a concepção de que a instituição de arte é um lugar inacessível ou restrito a poucos. Permitir que o público assuma outros papéis é uma das ferramentas centrais da exposição, afirma Cauê Alves, curador-chefe do MAM. “Há ênfase na possibilidade de o público participar de atividades, bem como de interagir com as obras de arte, seja de forma mais literal, jogando ou tocando algumas peças, ou de maneira conceitual, criando outros significados e interpretações a partir dos exercícios propostos pelos educadores no espaço expositivo. Não se trata de romper todas as barreiras, mas de identificá-las e refletir sobre elas, especialmente as barreiras que nos afastam das obras de arte.”

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Arthur Lescher | O rio, 2006
Arthur Lescher | O rio, 2006 (Foto: Marcelo Arruda/arquivo)
Elementar: Fazer Junto

MAM-SP – Sala Milú Villela
Parque Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3
De 15 de junho a 13 de agosto
Terça a domingo, das 10h às 18h
Ingressos: R$ 25 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser

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